Qual a relação entre degradação ambiental e pandemias?

A pandemia do novo coronavírus mudou a dinâmica e a rotina no mundo inteiro. Além das mais de 1 milhão de vidas perdidas — 149 mil apenas no Brasil —, tivemos que aprender a conviver em quarentena, usando máscaras e evitando contato social. O que nem todo mundo tomou consciência ainda, porém, é que há uma relação direta entre degradação ambiental e pandemias.

Preservar o meio ambiente e incentivar o desenvolvimento sustentável são formas de prevenir novas epidemias no futuro. Essa constatação pode é corroborada pela opinião de especialistas e também analisando como a mais recente epidemia global do novo coronavírus surgiu.

Coronavírus – de Wuhan para o mundo

O novo coronavírus infectou o primeiro humano em um mercado popular da cidade de Wuhan, na China. De lá, devido a sua alta taxa de infecção, foi se espalhando para outras regiões da China, outros países da Ásia, outros continentes e, enfim, para o mundo.

Esse vírus, porém, já existia. E é aí que se encontra o problema da degradação ambiental. Ele estava presente em animais silvestres, e tinha capacidade de infectar apenas a eles, não a humanos. O crescimento urbano desenfreado — e, consequentemente, a destruição do habitat natural da fauna de uma região — faz com que animais silvestres e a população interaja com mais intensidade. Como os vírus têm como característica a facilidade de mutação, essa interação aumenta as chances de acontecer o chamado Spillover — ou transbordamento, em inglês —, que, no contexto da infectologia, significa que um vírus conseguiu “pular” de uma espécie animal para a outra. No caso do novo coronavírus, tudo indica que esse “pulo” aconteceu de um morcego para nós, humanos.

Não é a primeira vez

O novo coronavírus não foi o primeiro a realizar esse salto e, ao que tudo indica, não será o último. Há muito tempo, essas mutações de vírus que, a princípio, infectavam apenas animais silvestres ou domésticos, vem acontecendo. Hantavírus e Lassa (que causam febre hemorrágica) pularam de roedores para humanos. A febre amarela dos macacos. As muitas variedades de influenza vieram, originalmente, de pássaros e porcos. O HIV dos chimpanzés. Raiva, Ebola e Sars (Síndrome Aguda Respiratória Grave) do morcego.

Desenvolvimento sustentável é uma resposta para crises futuras

Degradação ambiental, extinção em massa de espécies, redução significativa da biodiversidade, crescimento urbano desenfreado… todos esses elementos contribuem muito para o surgimento de novas zoonoses (doenças que infectam humanos a partir da interação com animais, sejam eles domésticos ou selvagens). Por conta disso, investir em desenvolvimento sustentável é uma ótima ferramenta para evitar novas pandemias ou diminuir o seu efeito na comunidade mundial.

Neste cenário, focando em soluções dentro do ambiente urbano, as chamadas cidades inteligentes são uma das possíveis respostas para que, em nosso futuro, os efeitos negativos de epidemias e outros males sejam reduzidos e menos frequentes.

Cidades inteligentes podem evitar o surgimento de uma pandemia porque seu crescimento é controlado. Uma cidade nesse modelo não invade áreas silvestres, já que seu desenvolvimento é pensado com bastante antecedência. Além disso, essas cidades conseguem combinar dentro de si uma urbanização inteligente — o que melhora o bem-estar, facilita a mobilidade urbana e incentiva a prática de esportes e utilização de meios de transporte sustentáveis — com um ambiente repleto de verde e locais abertos de socialização.

Como será o nosso “novo normal”?

O futuro imediato do pós-pandemia ainda é incerto. Se não sabemos ao certo como ele será, temos ideia de como ele deve ser, se quisermos um mundo mais saudável no futuro.

Práticas sustentáveis, como reciclagem, redução e reutilização de materiais devem ser cada vez mais difundidas em nosso planeta, já que essa prática diminui a necessidade de extrair da terra cada vez mais matéria-prima, o que faz com que mais florestas e áreas silvestres tenham de ser devastadas. Da mesma forma, economia de consumo de energia e água, consumo mais consciente de alimentos e também cobrar do governo público que se invista em um ambiente urbano que tenha o desenvolvimento sustentável como prioridade.

É um grande erro achar que cidades urbanizadas e meio ambiente são ideias totalmente separadas. Os próprios ambientes urbanos têm um bioma próprio, com fauna e flora característicos. E, ainda que se fale de ambientes silvestres, o que fazemos dentro de nossa casa se reflete diretamente nas grandes áreas verdes de nosso planeta. Tudo está interligado. Para evitar que mais pandemias surjam, devemos zelar por todos os ambientes, sejam eles o urbano ou o silvestre. Um projeto sustentável de desenvolvimento é a chave do futuro.